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PREFÁCIO
Ainda criança, pelos onze ou doze anos de idade, ao estudar, no Seminário, as primeiras línguas estrangeiras, Francês e Inglês, e ao tomar conhecimento da existência de muitas línguas, me surgiu a ideia de que as pessoas mais responsáveis no mundo deviam reunir-se e chegar a acordo sobre as palavras de uma mesma língua a ensinar em toda a terra, para que todos se pudessem compreender sem necessidade de estudar tantas línguas. Engraçado que pensei logo, sem ouvir essa hipótese a ninguém, que se deveria juntar uma pessoa de cada língua – imaginava que haveria só quinze a vinte línguas em toda a terra em vez das cerca de 6909 realmente existentes atualmente –, e em conjunto deveriam decidir, para cada ideia, qual a melhor palavra para a exprimir. Resultaria uma língua, a ensinar igual em toda a terra, em todas as escolas. Assim, com o estudo de apenas uma língua além da nossa, quando fosse preciso ir ao estrangeiro, em qualquer país seríamos compreendidos por todos. A mim isso parecia-me o mais prático e o mais lógico e muito me admirava que ainda ninguém tivesse pensado no assunto. [ver mais...]
Como era muito tímido e tinha medo de errar no que dizia, não exprimia o que pensava. Só tenho a vaga lembrança de o ter feito uma vez diante de alguns colegas, mas já não me lembro bem das palavras que usaram como reação perante ideia tão fora do comum. Como crianças que eram, desvalorizaram a minha ideia como algo irrealizável, porque se o fosse, já alguém teria pensado nela antes de mim. Perante reação tão pouco encorajadora para mim, na minha timidez, fiquei sem vontade de falar a mais alguém sobre o assunto. Guardava para mim a ideia, mas magicava porque seria que, parecendo-me uma coisa tão lógica, ninguém falava nela. Pensava que talvez a ideia em si fosse boa, mas irrealizável na prática, ou então que era realizável, mas as pessoas pensavam que não. Outra hipótese que eu punha é que, se calhar, cada pessoa julgava que a sua língua era a melhor e, por isso, nem punha a hipótese de que pudessem ser escolhidas palavras de outras línguas para se fazer uma língua internacional. Na minha ingenuidade, não pensava nos preconceitos que tantas vezes impedem ou atrasam mudanças que seriam oportunas no mundo, nem ainda em nacionalismos e interesses económicos. Como podia conhecer estas realidades, se era criança e vinha de uma aldeia, então muito isolada e pobre, onde nessa altura e ate 1971 nem energia elétrica havia e eram ainda muito poucas as casas onde havia um aparelho de radio a pilhas? Enfim, talvez a minha ideia fosse totalmente descabida, "maluca" mesmo!
Só quando tinha dezasseis anos, ao ler um “Almanaque das Missões”, é que encontrei um pequeno artigo sobre o Esperanto. Afinal, alguém já tinha pensado sobre o assunto, a minha ideia não era assim tão “maluca”! Mais tarde descobri que já no seculo XII uma freira, Santa Hildegarda de Bingen, tinha apresentado o primeiro projeto de língua “artificial” de que há memoria, e que grandes pensadores, ao longo dos tempos, escreveram sobre o assunto e alguns apresentaram mesmo projetos de língua internacional "artificiais".
E claro que a minha curiosidade foi tanta, que mandei logo vir por correio "O Esperanto em dez lições" e tornei-me um Esperantista convicto, embora sem participação em atividades associativas. Suponho que tenha sido o primeiro padre a celebrar, em Portugal, uma Missa em Esperanto, num Congresso Ibérico de Esperantistas realizado em Santo Tirso, em 1983, com textos aprovados pela Santa Se e enviados aos organizadores do Congresso. O então Papa, S. Joao Paulo II, polaco como o criador do Esperanto, Zamenhof, foi até hoje o Papa que mais apoiou o uso do Esperanto.
Com o passar do tempo, comecei a pensar que talvez a língua internacional do futuro ainda não estivesse inventada, pois seria preciso uma língua ainda mais fácil, mais lógica e com origem mais "democrática" do que o Esperanto, que foi criado por uma só pessoa e baseado quase só nas línguas românicas. Foi quando descobri a existência do projeto Fasile, de Balduino Breitenbach, aí pelo ano 2001, que verifiquei que alguém também tinha já pensado como eu e tinha ideias geniais para alcançar esse objetivo. Por isso, a minha adesão ao Fasile foi imediata e é a partir dele que e elaborado este Estudo, com algumas soluções que penso serem inéditas e poderão ajudar muito na evolução da ideia de língua internacional.
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